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Liberdade para Ser

Updated: Oct 15, 2021

“Sou o que sou”: redundante, mas verdadeiro, quando se fala em liberdade para ser. Entretanto, quando se fala em autoconhecimento, pode ser o caminho mais longo e complexo. Chegar ao que, realmente, se é: desafio que se potencializa em tempos de comunicação virtual, pois, quanto mais possibilidades temos de nos aproximar de qualquer pessoa do planeta, mais nos mantemos distantes de nós mesmos, criando a ilusão de algo que gostaríamos muito de ser.


Isto e muito mais nos afasta do potencial criativo inato, a livre manifestação do que somos. Saímos do mundo real das convivências em tempo presente e entramos no mundo virtual das telas.


No interior da família, é comum cada integrante ficar com uma tela na mão, fazendo o que é de seu interesse, entrando em seu mundo privado. E como fica o mundo da família? Como construir essa pequena coletividade, resgatando a potência de criatividade que reside em cada um? Quando será o momento de se juntar de novo?


Mas, ao mesmo tempo em que distancia, o mundo virtual também aproxima, na medida que usamos a Internet para nos comunicar com quem está longe e interagir com campos do conhecimento.


Dois desafios dialogam por aqui: saber a justa medida de uso das redes sociais e potencializar a criatividade do que realmente se é, para produzir e cocriar num mundo onde a coletividade se anuncia com outras nuances.


É inquestionável que todo este movimento digital nos afasta do tempo presente, nos transportando para muitos lugares ao mesmo tempo, tirando assim, a liberdade de ser, de criar, de colocar nossa essência em cada manifestação. Entretanto, há saídas possíveis, humanas e básicas. Uma delas é a arte, capaz de nos trazer para o presente ao conectar com a vontade de viver no aqui e no agora, de conversar com as pessoas, transformando a vida em vontade e prazer, pulsão de ser e realizar.



Nesse sentido, a dança nos conecta com a essência que somos, a expressão e o autoconhecimento, fundamentais quando se vive numa sociedade que impõe formas de agir, falar, se expor e, até, de ser.



Giu Rocha da Rocha, professora de dança licenciada pela UERGS, que trabalha com ancestralidade e culturas afro-brasileiras, afirma que, através dessa forma de arte, descobre a si e suas capacidades: “somos corpo, mente e espírito, e essas coisas se interligam o tempo inteiro, por isso que vem a coisa do bem-estar.”

A dança estimula a criatividade, trabalhando o entendimento de como o corpo funciona, propondo o contato com o chão, principalmente na dança contemporânea. Chão simboliza base, início, ancestralidade. Resgate de saberes a partir do vínculo da manifestação artística, buscando aquilo que, talvez, não sabemos, revivendo um pouco esse passado para também poder compreender melhor nosso presente e, assim, construir nosso futuro. Quando a arte conecta com o foco da ancestralidade trabalhamos com quem somos, o que viemos fazer, porque estamos aqui, o que eu desejamos fazer no futuro, respeitando o passado. Isso atua, dentro do ser, na contramão de uma sociedade que, constantemente, questiona os jovens “tá e o teu futuro?".

A arte, como manifestação de vida, está dentro de nós: do mesmo jeito que sabemos dançar, sabemos cantar, tocar, pintar. Basta encontrar esses lugares em nós. Charles Censi, tatuador graduado em Artes Visuais, encontrou a arte do desenho dentro de si. Exerce seu ofício conectando com a cultura nórdica, as tradições ancestrais e nativas. Sobre a liberdade de ser através da arte, observa que, quanto mais nova a criança, mais pura é a expressão dela: “ela não tem limite, ela não quer saber se a casa tá voando, ela tem uma incoerência, porém saudável no sentido de expressão. Eu acredito que nesta questão de educação, observando como as crianças e os jovens se expressam através de uma pintura ou de desenho”.


“Podemos perceber sinais para dar um direcionamento de vida ou até observar se a criança tem uma certa patologia, um lado mais obscuro proeminente na arte. O desenho pode mostrar o interior da pessoa.”



Como seres humanos, gostamos de liberdade de expressão e temos direito a ela. Mas, aí, cabe um certo cuidado. O limite entre a liberdade e a libertinagem é uma linha muito tênue. O que para um é liberdade de expressão pode estar agredindo outro. Em tempos de politicamente correto, esse limite tênue não pode contaminar a manifestação artística. Cabe, outrossim, considerar eticamente a liberdade do outro: nunca estamos sós, sempre afetamos e somos afetados na trama social da qual fazemos parte.

Dentro desse contexto, a pornografia, citada por Charles, é um sinal de alerta, quando sabemos que, desde cedo, as crianças acessam conteúdos inadequados para seu grau de desenvolvimento e entendimento do mundo dos adultos.



Há uma imensa quantidade de informação ao dispor de crianças e adolescentes. Isso despotencializa a criatividade, deixando consequências importantes na qualidade de vida, na saúde emocional e psíquica.



Uma delas tem sido denominada de Síndrome do Pensamento Acelerado, justamente por essa quantidade de informações que a criança absorve: no celular, bombardeada o tempo inteiro, é o vídeo no YouTube, mas quer jogar com um amiguinho, chama outro no Whats e assim segue seu dia, sem se dar conta que o tempo passa. Então vai entrando muito mais informação na mente daquela criança do que ela consegue receber e processar.

Onde está a saída? Deve haver muitas, mas poucas acessíveis nos tempos de supremo realismo que vivemos.


Através da arte conectamos com nosso ser autêntico, aquela parte de nós que veio das estrelas, que liberta para ser aquilo que, aqui na Terra, veio a viver: a verticalização, talvez a mais ancestral das conexões humanas, a ligação com o divino.



Charles Censi chama a isso de “dar uma cortadinha no fio do cotidiano”, principalmente quando ele se torna cruel demais para ser vivido sem uma conexão com algo Maior que, mormente, nos conecta a todos, como humanidade única que somos.









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